sexta-feira, 30 de março de 2012

Osasco e seus 50 anos - Um olhar histórico


Neste dia 19 de fevereiro Osasco completou 50 anos de existência e autonomia. O fato é que sua fundação enquanto núcleo de povoamento é bem anterior, remonta a 1895, quando um imigrante italiano empreendedor, cujo nome era Antônio Agú, resolveu fundar nas proximidades do atual centro do município uma estação ferroviária. Seu objetivo era interligar a vila que se formara às cidades de grande porte da região (entre elas SP). Com a criação da Estação Ferroviária Osasco (nome da cidade natal de Antônio Agú) e da Fábrica de cerâmica italiana uma grande quantidade de trabalhadores veio para a cidade, formando um núcleo de povoamento ao redor das pequenas fábricas, eram paulistas de diversas localidades e uma grande quantidade de italianos. Osasco nasceu ai, uma vila operária voltada para o trabalho fabril, com grande concentração de imigrantes.

Mas isso não resume a historia da nossa cidade. É preciso saber que Osasco participou ativamente de um dos capítulos mais tristes da história mundial ao receber uma enorme quantidade de Armênios, estes vieram fugidos do massacre empreendido pelos Turcos-otomanos, no que ficou conhecido como o Genocídio Armênio, o primeiro do século XX e inspirador para o terror nazista que estava por vir. Essas populações vieram para trabalhar no frigorifico Wilson (atual jardim Wilson), elas participaram ativamente do processo de urbanização da futura cidade, que no momento era um distrito renegado da capital São Paulo. Esses ciclos de imigração moldaram a região, criando uma população miscigenada que é bem típica do nosso país.

O isolamento vivido pelo então subdistrito de São Paulo trazia como consequência um enorme atraso social e estrutural, que renegava a Osasco um eterno papel de subúrbio pobre e abandonado da capital. Com isso, já na década de 50 teve inicio um movimento para separar o subdistrito e criar um município novo, algo quase inédito e desacreditado até então. Depois de grandes insucessos a autonomia foi conquistada em 1962, em uma batalha judiciária que contou com amplo apoio social, essa luta foi denominada movimento dos autonomistas.

A nova cidade contava nesse momento com o número aproximado de 115 mil habitantes, mas em apenas quatro décadas viria sua população crescer para cerca de seis vezes. O principal fator para essa explosão populacional foi a enorme migração nordestina na cidade, história que as elites municipais insistem em esquecer e renegar. A cidade teve uma atuação intensa de nordestinos, que expandiram as fronteiras habitadas com o enorme desafio de superar as barreiras impostas pela migração, como o preconceito, a falta de subsídios, a exploração do trabalho e a precariedade de meios para viverem como cidadãos. Essas pessoas vieram de diversos estados do nordeste brasileiro, acompanhando o ritmo da migração para o sudeste que carecia de mão de obra para seu desenvolvimento. Foram estes braços que possibilitaram a expansão da cidade, seu desenvolvimento estrutural, populacional e econômico.

Outro fato de destaque remonta a julho de 1968, quando uma greve iniciada na Cobrasma fez parar todo o trabalho fabril na região, um ato iniciado por operários que protestaram contra a morte de colegas e o rebaixamento dos salários. Essa luta incitada no município ficou conhecida como um dos primeiros sintomas de resistência social contra o Regime Militar Ditatorial no país, tais operários iriam mais tarde compor o cerne da resistência social.

O preconceito sobre Osasco sempre foi grande, sobretudo pelos olhares da capital. O fato é que Osasco sempre foi temida pelo modelo que criara. É evidente que a capital passou a tomar mais cuidado com seus extremos, temendo perde-los, para isso criou uma estrutura de poder mais eficiente que desencadeou nas atuais subprefeituras. Além disso, a grande concentração de nordestinos gerou uma desconfiança preconceituosa de diversos setores, que duvidaram do desenvolvimento econômico e social do município. Mas conforme os anos foram passando a experiência se mostrou economicamente/socialmente viável, hoje a cidade conta com uma incrível força de trabalho, uma enorme industrialização com boas taxas de desenvolvimento em todos os sentidos. Apesar dos problemas estruturais vividos, sobretudo nas periferias tristemente renegadas do município, a cidade conta hoje com os números de 670 mil habitantes, uma taxa de 95% de alfabetização, eficiente saneamento básico (45° do país), um incrível PIB de 31.616.451.000 de reais (a décima segunda cidade mais rica do País e 4° de SP). Em 50 anos o lema “A cidade do trabalho” se fez valer, pois surgiu uma região onde a luta social vingou e prosperou. Mas ainda há muito a se fazer nos próximos 50 anos.

É preciso compreender a história para entender o presente. Por Lucas Alves de Camargo.

Um comentário:

  1. Legal, os nordestinos são sempre esquecidos né.
    Osasco é uma cidade muito grande e acolhedora, belo post.

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